Será que é possível que pessoas falecidas retornem à vida em outro corpo?

Pontos principais

  • Há muitos relatos de crianças pequenas que descrevem detalhes precisos sobre supostas vidas passadas, e essas informações foram posteriormente verificadas.
  • Alguns argumentam que esses relatos podem ser fruto de fraude, imaginação ou exageros.
  • Um caso notável é o de Ryan Hammons, que apresentou 55 declarações específicas sobre uma vida anterior, todas confirmadas.

A visão inicial sobre reencarnação

Sempre tive dificuldade em aceitar a ideia de reencarnação. Parecia-me uma explicação simplista demais, semelhante à concepção cristã de um pós-vida baseado em recompensas ou punições: boas ações resultariam em uma vida futura melhor, enquanto más ações poderiam levar a reencarnar como um animal inferior.

Contudo, nos últimos anos, tomei conhecimento de relatos bem documentados de crianças que narraram detalhes impressionantes sobre vidas passadas. Em muitos casos, essas informações foram verificadas por investigadores independentes.

Pesquisas pioneiras

O estudo de casos como esses começou com o Dr. Ian Stevenson, um psiquiatra da Universidade da Virgínia. Ele dedicou grande parte de sua carreira a coletar e analisar relatos de crianças que afirmavam lembrar-se de vidas anteriores. Normalmente, essas crianças, entre 2 e 4 anos de idade (com média de 35 meses), começam a descrever eventos de uma vida passada, frequentemente mencionando o que as levou à morte. Algumas até falam no presente, como se essa vida ainda estivesse em andamento. Stevenson conseguiu, em alguns casos, identificar as pessoas que as crianças afirmavam ter sido, verificando os relatos com familiares dos falecidos.

Após a morte de Stevenson, outros pesquisadores continuaram seu trabalho, e cerca de 2.500 casos de memórias de vidas passadas já foram estudados. Os estudos indicam que, na maioria dos casos, as vidas relatadas terminaram de maneira trágica, como em acidentes, suicídios ou episódios de violência. Três quartos das personalidades passadas morreram jovens, e um quarto delas tinha menos de 15 anos. Em média, as mortes ocorreram quatro anos e meio antes do nascimento das crianças que relataram essas memórias.

Verificação dos relatos

Pesquisadores modernos se dedicam a verificar minuciosamente a veracidade das histórias, investigando se as informações poderiam ter sido obtidas de outras formas, como fantasias infantis ou influência dos pais. Muitas vezes, as crianças passam por testes de reconhecimento, onde precisam identificar fotos de pessoas ou lugares associados à vida anterior que relatam.

Um dos principais pesquisadores atuais é o Dr. Jim Tucker, da Universidade da Virgínia. Entre os casos que ele investigou, o de Ryan Hammons se destaca.

O caso de Ryan Hammons

Aos 4 anos, Ryan disse à mãe, Cyndi: “Eu acho que fui outra pessoa”. Ele ficava animado ao ver o letreiro de Hollywood na televisão, dizendo que aquele era seu lar e que queria voltar para lá. Relatava ter sido um agente de talentos em Hollywood, dançado na Broadway e morado em uma casa com uma grande piscina.

Ryan também mencionava festas glamorosas com um “homem cowboy” que tinha um cavalo que fazia truques e aparecia em comerciais de cigarro. Na escola, desenhava sua casa sempre com quatro pessoas: ele mesmo, seus pais e o “antigo eu”.

Cyndi começou a anotar tudo o que o filho dizia. Certo dia, ao folhear um livro sobre Hollywood, Ryan viu uma imagem do filme Night After Night e apontou animado: “Mamãe, aquele é George — fizemos um filme juntos!” Ele também identificou um homem na foto, dizendo: “Esse sou eu”. Mais tarde, o homem foi identificado como Marty Martyn, um ator, dançarino e agente que morreu em 1964.

Verificações detalhadas

Muitas das declarações de Ryan foram confirmadas por documentos públicos e relatos de familiares de Martyn. Entre os detalhes verificados estavam:

  • Marty Martyn foi dançarino e dirigia uma agência de talentos.
  • Ele teve várias esposas e sua filha ganhou um cachorro aos 6 anos.
  • Seu restaurante favorito ficava em Chinatown, e ele passava muito tempo em Paris.

Quando levado ao prédio onde ficava a agência de Martyn, Ryan reagiu com grande emoção, como se estivesse realmente voltando para casa.

Hoje, adolescente, Ryan não lembra mais de sua suposta vida passada, mas ainda demonstra interesse por filmes antigos e músicas dos anos 1940 e 1950.

Explicações alternativas

É possível explicar casos como esse de outras formas? Alguns acreditam que as crianças podem estar fantasiando ou captando informações de conversas dos pais. No entanto, os relatos geralmente envolvem pessoas desconhecidas para a família. Além disso, muitos casos foram documentados antes da era da internet, o que torna improvável que os pais tenham “ensinado” essas histórias.

Essas evidências me levam a reconsiderar minha visão sobre reencarnação. Como cientista, sinto-me compelido a ajustar minhas crenças diante de dados consistentes. Talvez a ideia de retorno após a morte seja mais do que uma simples superstição. Como Shakespeare escreveu em Hamlet, a morte pode ser “um país desconhecido de onde nenhum viajante retorna”. Mas talvez seja possível, de alguma forma, voltar e lembrar dessa jornada.

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